quarta-feira, 22 de abril de 2009

será?

Durante algumas vezes, fui muito injusta comigo mesma, mas tenho medo de ter sido ainda mais injusta contigo. E sei que o fui, ainda que me tente convencer todos os dias que não. Tento que doa menos, tentando tapar todos os buracos que ficaram, tentando concertar todas as falhas, tentando sarar todas as feridas. As marcas, as queimaduras, os ácidos, as cicatrizes, o tempo foi apagando. As desilusões, as tristezas, as mágoas, as discussões, o tempo foi levando. Já não oiço a nossa voz aos gritos no meio do jardim, já não releio as nossas mensagens duras, já não sinto a ausência das tuas mãos frias a percorrerem o meu corpo quente. Já não me vejo distante, nem triste, nem te vejo atrás de mim no espelho. E sei que fui injusta ao mandar-te embora daquela forma, sem ouvir-te com atenção, sem te deixar apaziguar-me. Preferi a culpa ás desculpas, sem pensar que podiam mesmo ser álibis fundamentados. Não quis ouvir a tua versão dos factos, não te deixei falar, nem explicar-me o ocorrido. Tento saber se te esqueceste de mim, tento-me convencer que não, mesmo sabendo que sim. Que me substituíste, e que ate foi fácil, porque os homens tem facilidade em lidar com os desgostos de amor. Entregam o coração magoado ao primeiro colo que lhes oferece abrigo, ao primeiro tecto que lhes oferece protecção, ao primeiro chão que lhes oferece segurança. Esquecem-se que são só ofertas, porque só querem esquecer porque estão ali. Esquecem-se que os abrigos nem sempre são seguros, que por vezes os tectos são falsos e que o chão pode ter vários metros de profundidade. Não pensam, não tem medo, e muito menos amor. Só querem esquecer que os magoaram, porque dizem que um homem não chora. E eu já vi tantos chorar amor.

Sem comentários:

Enviar um comentário